"Deus Pátria Família", Hugo Gonçalves

 


Atribuir o termo "extraordinário" a este livro parece até um eufemismo, uma vez considerada a sua genialidade.
"Deus Pátria Família" é uma distopia desconfortavelmente palpável. A partir do Estado Novo, tão comummente inserido no conhecimento geral, Hugo Gonçalves (a quem tenho de tirar o chapéu, com toda a certeza) entregou-nos uma reviravolta intrigante, recheada de personagens fictícios, porém humanos; desde os maiores canalhas ao qual designamos todo o nosso ódio até aos propulsores de empatia, os mártires e os inocentes, aos quais nós gostaríamos de abraçar e garantir que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que estaríamos a contar uma mentira cruel.
Aliado a um léxico requintado (mas simultaneamente acessível), o autor coloca a sociedade da época a nu, o que tem de ser louvado até à exaustão. A hipocrisia da população falsamente conservadora, odiosamente preconceituosa (excepto quando os bodes expiatórios vão de encontro aos próprios interesses) e a crueldade dos tiranos egoístas que retêm o poder são alguns dos aspetos fraturantes que tornaram esta leitura inesquecível.

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